O peso da obesidade na conta do SUS
A obesidade e outras 26 doenças relacionadas ao excesso de peso custaram R$ 488 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2011.
O levantamento da Universidade de Brasília (UnB) foi feito a partir do custo de internação e atendimento destes pacientes. A conta é puxada pelas doenças isquêmicas do coração (obstrução do vaso sanguíneo), responsável por R$ 166,1 milhões. Em seguida, estão câncer de mama (R$ 30,6 milhões), insuficiência cardíaca (R$ 29,5 milhões) e diabetes (R$ 27,1 milhões).
A título de comparação, o valor é maior do que o gasto com doenças decorrentes do tabagismo, principal causa de morte evitável no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma pesquisa de 2008 da Fundação Oswaldo Cruz mostrou que o custo anual do SUS foi de R$ 338 milhões.
O estudo é inédito, portanto não há comparação de custo com outros anos, mas a proporção de pessoas acima do peso no Brasil tem aumentado progressivamente.
De acordo com o IBGE, 14,8% da população adulta era obesa no biênio 2008-2009. Nas últimas três décadas, a obesidade saltou de 2,8% para 12,4%, no caso dos homens, e de 8% para 16,9%, nas mulheres. Além disso, 21,7% da população entre 10 e 19 anos tinha excesso de peso em 2009. Em 1970, o percentual era de 3,7%.
– Se não houver uma prevenção mais eficiente, em 20 anos nenhum governo vai ter dinheiro para pagar a conta – afirma o cirurgião Luiz Vicente Berti, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. – A população vem engordando numa proporção que levou a uma epidemia mundial, a qual já vínhamos alertando há muito tempo. O Brasil gasta mais em remediação do que em prevenção.
Mudança de hábitos é essencial
Berti explica que a obesidade tem causas genéticas: remonta da época pré-histórica, quando os homens precisavam colher ou caçar o alimento, e eles desenvolveram uma alta capacidade de absorver nutrientes. Hoje, a facilidade de acesso à comida industrializada e gordurosa provoca o acúmulo de calorias no organismo. Para contornar os genes, o médico defende a reeducação alimentar e a prática de atividade física.
A obesidade grave ocorre quando o IMC atinge ou ultrapassa a marca de 40, e neste caso é indicada a cirurgia bariátrica (de redução do estômago).
– Mesmo com a cirurgia, o indivíduo só vai manter o peso normal se mudar os hábitos – explica Berti. – E o problema é que hoje um paciente espera até 8 anos para ser operado num hospital público.
Já o presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), Antonio Nardi, diz que a média de espera é de 3 anos. Segundo o Ministério da Saúde, há 81 hospitais habilitados a realizar o procedimento. Nardi foi um dos que se submeteu à cirurgia bariátrica.
– Sou um operado bariátrico há 12 meses, com 50 quilos a menos e qualidade de vida triplicada.
Durante a divulgação da pesquisa o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou ações para ampliar a oferta de cirurgias bariátricas, como a queda da idade mínima para a operação em hospitais públicos – de 18 para 16 anos – e o fim da idade máxima, que era de 65 anos. O ministro também prometeu financiar a instalação de quatro mil academias de saúde, das quais 2,8 mil já receberam recursos.
Outra iniciativa prevê aumentar o atendimento nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, que até o fim deste ano deve subir das atuais 1.888 equipes para 2.957, com um investimento previsto de R$ 527 milhões. Ele lembrou que o governo já firmou acordos com a indústria alimentícia para reduzir a quantidade de gordura trans e sódio nos alimentos e disse também que temas como a regulamentação da publicidade de alimentos para crianças devem ser discutidos no Congresso.
– Agora é o momento para o Brasil agir, caso a gente não queira atingir os índices alarmantes dos Estados Unidos – disse Padilha.
No EUA, a obesidade atinge 27,6% da população adulta. No Chile, o índice é de 25,1% e, na Argentina, 20,5%. Os casos de sobrepeso não entraram na pesquisa da UnB. Se isto fosse contabilizado, o valor poderia atingir R$ 3,5 bilhões anuais, de acordo com um estudo da Uerj divulgado ano passado.
Coordenado pela nutricionista Michele Lessa de Oliveira, o trabalho mostra que a obesidade foi responsável por 7,6 milhões de consultas ambulatoriais e 207,8 mil internações no SUS neste período.
Fonte: Demétrio Weber – OG